Galeria de Arte J. Inácio completa 44 anos como espaço de formação e diversidade artística em Sergipe

Inaugurada em 10 de dezembro de 1981, a Galeria de Arte J. Inácio chega aos 44 anos se mantendo como um espaço aberto à diversidade de trajetórias artísticas. Ao longo de mais de quatro décadas, a galeria acolheu desde estudantes do ensino médio até nomes já consagrados no circuito sergipano, consolidando-se como referência para exposições individuais e coletivas, mostras oriundas de editais públicos e ações em parceria com escolas e universidades.

Instalada no primeiro andar da Biblioteca Pública Epiphanio Dória, a Galeria de Arte J. Inácio tornou-se um ponto permanente de circulação, formação e encontro das artes visuais em Sergipe, acompanhando as transformações da produção artística e ampliando o acesso a diferentes linguagens.

Espaço de formação

Artista visual com forte relação com a cultura sergipana, Edidelson se acostumou a chamar a J. Inácio de ‘casa’ depois de sucessivas exposições individuais e coletivas no espaço. Ele lembra que a criação da galeria respondeu a uma demanda que se abria com os salões de artes plásticas: um número crescente de artistas precisava de um lugar estruturado para expor, divulgar e vender suas obras, sem depender apenas de convites a nomes já estabelecidos.

“A Galeria teve um significado muito grande para a minha vida, para a minha formação enquanto artista e para expor os trabalhos que eu fazia. Os diretores que aqui estiveram começaram a dar oportunidade para fazer com que os artistas que estavam começando pudessem expor juntos. Lembro que fiz uma exposição individual que foi um dos meus divisores de água na minha carreira. Eu tenho várias exposições, vários momentos importantes aqui na galeria que me hospedou”, conta Edidelson. 

Quando fala do futuro, Edidelson destaca a importância a Galeria como porta de entrada para diversos artistas e sobre manter o espaço físico, mesmo com o crescimento das redes sociais como vitrine para a arte. “A mensagem que eu deixo, por esses 44 anos de glória desse super espaço, é que a galeria continue servindo aos artistas, principalmente aos novos que precisam, apesar de ter o advento da internet e com redes sociais que divulgam e difundem o trabalho, mas a gente precisa também da continuidade desse espaço físico importante. Que muitos artistas se reencontrem aqui, que artistas novos se revelem aqui, revelem sua arte, e que ela continue sendo esse pilar do espaço cedido a artistas para que eles possam deixar seu trabalho com a maior visibilidade possível”, enfatiza.

Descentralização da arte

A política de editais tem sido um dos caminhos para que essa ampliação de vozes se mantenha. Desde 2016, a galeria vem recebendo projetos selecionados em chamadas públicas de ocupação e, mais recentemente, em iniciativas como a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo, voltadas ao incentivo direto à produção artística. É o caso da artista plástica Tássia Reis, de Lagarto, município do centro-sul sergipano, que trabalha com tinta a óleo em uma pesquisa ligada ao realismo mágico e apresentou, na galeria, a exposição ‘Cultura Viva por entre os mundos’.

Natural do interior do estado, ela enfatiza como os editais ampliam o acesso a espaços simbólicos para artistas que nem sempre conseguem chegar a Aracaju com seus trabalhos. “Eu sempre quis muito expor um dia na Galeria de Arte J. Inácio. O edital, como tantos outros editais de incentivo, facilitou muito para que artistas do interior pudessem sonhar em ter suas mostras em lugares muito especiais como este. Eu, enquanto artista de Lagarto, me sinto muito feliz pelo acolhimento que encontrei aqui, e isso faz toda a diferença”, afirma. 

Para Tássia, a experiência confirma a percepção da J. Inácio como um ambiente aberto a diferentes linguagens e trajetórias. “Parabéns aos 44 anos da J. Inácio por esse espaço lindo e democrático, onde acolhe todas as linguagens de arte, acolhe todos os gêneros possíveis, técnicas que já passaram pela exposição, pela galeria e é muito importante para todos os artistas ter um espaço assim”, parabeniza.

Vitrine da arte

Iniciado em 2026, o Festival AVIE! – Artes Visuais na Escola, realizado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) em parceria com a Funcap e a Secretaria Especial de Cultura (Secult), tem como objetivo fomentar a produção artística entre alunos da rede pública estadual. A iniciativa abre espaço na Galeria de Arte J. Inácio para obras em diferentes linguagens, como pintura, fotografia, desenho, imagem digital, colagem e escultura, selecionadas por meio de processo curatorial.

Para a aluna Lorena Costa, do Colégio Estadual Dr. Antônio Garcia Filho, em Umbaúba, cidade da região sul, o projeto funcionou como porta de entrada para uma trajetória que começava: “O Avie foi uma oportunidade de mostrar para outras pessoas o que eu sei fazer desde nova. É muito importante que a Galeria tenha esse olhar para novos artistas, principalmente incentivando os mais jovens. É um ciclo de oportunidades, e quanto mais obras, mais da nossa arte e nossa gente será representada”.

Premiada com R$ 5 mil em 2024 pela primeira colocação, Lorena destaca que ver suas obras expostas em um espaço que acolheu nomes que ela admira transformou a experiência. “Foi muito bom ter minhas obras disponíveis aqui na Galeria, lugar que eu sei que tantos artistas importantes que eu acompanho e admiro e me inspiram já passaram. Para mim, foi uma honra, tenho certeza que para outros artistas também. Eu, enquanto artista jovem, fico muito feliz pela existência deste espaço. Espero que ela tenha muitos anos de continuidade para que artistas novos, assim como eu fui, tenham a oportunidade de expor aqui e tenham seus trabalhos impulsionados cada vez mais”, enfatiza.

Arte e direito

O grupo de pesquisa ‘Direito, Arte e Literatura’, criado em 2017 na Universidade Federal de Sergipe e coordenado pela professora Miriam Coutinho, trabalha para levar conhecimento além da academia e da legislação. Dedicado a estudos interdisciplinares sobre o imaginário jurídico por meio da estética artística e literária, o grupo encontrou na Galeria de Arte J. Inácio um espaço contínuo de aprendizado.

“Eu frequento a Galeria J. Inácio há muitos anos. Ela é muito significativa para a minha memória individual, pessoal, e tem sido um longo aprendizado. Na minha formação profissional como professora da universidade, instituiu grupo de pesquisa, direito à arte e literatura. Nós passamos a frequentar a galeria, para que ela reconhecesse muito o nosso conhecimento sobre a arte, sergipana, mas também reconhecendo a nossa identidade, nosso pertencimento. Então, a Galeria é muito significativa nesse processo cultural de formação cidadã”, relata a professora Miriam Coutinho. 

Para Miriam, a Galeria opera como espaço cidadão onde se desenham conexões entre direito, educação e arte para compreender diferentes realidades. “Os alunos começam a perceber nas pinturas, as paisagens urbanas, rurais, os conflitos sociais, as questões da cidade. Então, é uma galeria muito representativa para a nossa memória, tanto pessoal quanto coletiva. É um processo da relação entre educação, cultura, arte e o direito envolvido nisso, porque cada obra de arte nos mostra esse aspecto da liberdade, do direito fundamental à liberdade, à expressão, à criatividade, direitos humanos e arte. E a nossa vinda aqui tem gerado muitas pesquisas e estudos. A galeria, para nós, é um significado de permanência”, destaca. 

Galeria em movimento

Esta é a terceira e última reportagem da série especial ‘Galeria de Arte J. Inácio 44 anos: Galeria em Movimento’, produzida pelo Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap), que reúne depoimentos de artistas, personalidades e gestores que acompanharam a trajetória do espaço e destacam sua importância para o fortalecimento das artes visuais no estado. As homenagens seguem também nas redes sociais da Funcap.

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